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sábado, 31 de janeiro de 2015

Os Nomes de Deus

 Autor: Pr. Marcelo Rodrigues de Aguiar (*)

Deus tem um nome? Qual é o nome de Deus?

Para responder a esta pergunta, precisamos primeiro fazer outra: o que é um nome? Para que ele serve? Os nomes servem para distinguir duas ou mais coisas que pertençam ao mesmo gênero (por exemplo: nós, seres humanos, precisamos de nomes porque somos bilhões sobre a terra). Neste sentido Deus não precisa de nome, porque é único, e deve ser chamado simplesmente de Deus. “Assim diz o Senhor, Rei de Israel, seu Redentor, o Senhor dos Exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e fora de mim não há Deus (Is. 44.6). Os que dizem que Deus tem um nome e que devemos chamá-lo de Jeová estão, assim, totalmente errados.

No entanto, os nomes também podem ter outro propósito: destacar as qualidades de uma coisa ou pessoa. Neste último sentido Deus tem muitos nomes, porque possui inúmeras qualidades. Encontramos na Bíblia nomes que Deus atribuiu a si próprio, e outros que pessoas inspiradas atribuíram a Ele em momentos especiais. Como cada nome põe em relevo um atributo ou qualidade de Deus, conhecer os nomes divinos pode ser algo muito proveitoso, na medida em que permite-nos conhecer melhor o nosso Criador.

1) El – Deus ou deus

Significa “Deus” no sentido mais abrangente do termo. Pode ser aplicado ao Deus verdadeiro (Sl 77.14) ou a um deus falso (Is 44.17). Na maior parte das vezes que aparece na Bíblia refere-se ao Deus verdadeiro. Por ter um significado muito amplo raramente aparece só; vem acompanhado de adjetivos e títulos, e forma nomes compostos. Nas línguas semitas, também é o termo empregado para Deus. Na religião cananéia, era identificado como o maioral dos deuses e pai de Baal (um nome próprio, portanto). O livro da Bíblia que mais utiliza a palavra El é Jó. Este nome de Deus aparece na formação de muitos nomes próprios: Ismael (Deus ouve), Israel (Deus luta), Miguel (quem é como Deus), Daniel (Deus é juiz), Elimeleque (Deus é rei), Elias e Joel (Yahweh é Deus), Ezequiel (Deus fortalece), Emanuel (Deus conosco), etc.. A raiz da palavra El vem do termo hebraico para “forte”; logo, El significa “poderoso” (Is 9.6).

2) Eloah – Deus ou deus

Forma antiga e ampliada de El. Esta palavra estava em uso desde tempos mais remotos, e foi gradativamente caindo em desuso. Após o cativeiro o termo voltou a ser usado, de modo limitado, devido a uma preocupação em retornar aos fundamentos antigos. Quase sempre usado para designar o Deus verdadeiro, e ao contrário de El, dispensa adjetivos. Aparece quase exclusivamente no livro de Jó (Jó 11.7). Tanto El quanto Eloah destacam o poder de Deus. São nomes que transmitem conforto e segurança ao povo de Deus (Pv 30.5), mas temor aos seus inimigos (Sl 50.22). Eles nos lembram que Deus merece nossa confiança e nosso respeito.

3) Elohim – Deus ou deuses

Forma plural de El, formada com o acréscimo do sufixo “im”. Pode referir-se ao Deus verdadeiro (Gn 1.1) ou a deuses falsos (Sl 138.1); só o contexto estabelece a diferença. Elohim é muito mais usado do que El ou Eloah (Êx 3.6). No Calvário, Jesus utilizou uma expressão aramaica do termo, citando o Salmo 22.1 ( Mt 27.46). Em várias ocasiões Elohim aparece ligado a Yahweh, outro nome de Deus (Js 22.22). O mais surpreendente a respeito de Elohim é que, ainda que seja uma palavra plural, frequentemente é usada com o verbo no singular. Isso ocorre porque Elohim é o nome que expressa a Trindade divina: um Deus em três pessoas (Gn 1.26). É um nome que nos lembra que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. Por isso o termo é importantíssimo para os cristãos em seus debates com espíritas, Testemunhas de Jeová, judeus e muçulmanos. Deus é triúno.

4) El-Shaddai – Deus Todo-Poderoso

Forma composta de El. Mais usada nos primórdios do VT (Gn 17.1; 28.3; 35.11; 48.3) e no livro de Jó (Jó 5.17, etc.). Deus também se apresenta como todo-poderoso no NT (Ap 1.8, etc.). Este nome põe em destaque a força de Deus, intensificando o significado de El e indo além dele: Deus não é apenas poderoso, é todo-poderoso. Se Elohim é o nome da Trindade, El-Shaddai é o nome da Onipotência. A Bíblia não admite concorrentes: não há um deus do bem e um deus do mal. Para El-Shaddai nada é impossível. Por isso devemos ter fé (Mc 9.23). Por isso devemos descansar (Is 32.18).

5) El-Olan – Deus Eterno

Nome com o qual Abraão invocou o Senhor (Gn 21.33). Aparece em outras partes do VT (Is 40.28). A forma original do nome é El-dhu-Olami, que significa “Deus da eternidade”. É o nome que enfatiza a eternidade e imutabilidade de Deus (Sl 90.1,2; Ml 3.6; Tg 1.17). Ele sempre existiu e existirá, e sempre foi do jeito que é. Essa característica de Deus permite-nos confiar nele plenamente.

6) El-Rói – Deus que Vê

Dessa forma chamou Agar ao Senhor, quando lhe apareceu no deserto (Gn 16.13). É o nome da Onisciência divina. Os olhos do Senhor estão por toda parte (2Cr 16.9). Eles atentam especialmente para os seus filhos (Sl 33.18,19). Enxerga o nosso interior (Sl 139.1-24). Jesus deu mostras desse atributo divino (Jo 1.47-49). No Apocalipse, sua Onisciência é simbolizada pelos olhos de fogo (Ap 1.14).

7) El-Elohe-Israel – Deus, o Deus de Israel

Jacó havia acabado de receber de Deus o nome de “Israel” quando edificou um altar e dedicou-o a “Deus, o Deus de Israel” (Gn 33.20). Com isso quis deixar claro que o Senhor era o seu Deus, e não apenas de Abraão e Isaque. Como Jacó, precisamos fazer do Senhor o nosso Deus. Como fazemos parte do Israel de Deus (Gl 6.16), El-Elohe-Israel é o Deus de todo cristão, é o Deus da igreja.

8) El-Betel – Deus da Casa de Deus

Este nome também foi dado por Jacó (Gn 35.7), lembrando-se do sonho que tivera 20 anos antes. Naquela ocasião ele havia chamado o mesmo lugar de Betel, que significa “casa de Deus” (Gn 28.16-19). É um nome que evoca culto, adoração, bênção e reverência. Devemos ter respeito pelo templo, que é a casa de Deus (Hab. 2.20); frequentá-lo sempre (2Cr 7.15,16); lembrar que a igreja é a casa espiritual de Deus (1Tm 3.15).

9) Elyon – O Altíssimo

A Bíblia diz que Melquisedeque era sacerdote de Elyon, o “Deus Altíssimo” (Gn 14.18-20). Ela deixa claro que esse não era um deus diferente, mas o mesmo que Abraão chamava de El-Shaddai e Yahweh (Gn 14.22). Era um nome usado não só pelos israelitas, mas por povos vizinhos (Nm 24.16). Trata-se de um nome que exalta a santidade de Deus, a sua transcendência, a sua pureza (Sl 7.17). Ele nos lembra que Deus é santo e puro, e merece todo o respeito (Ec 5.2).

10) Adonai – Senhor

Esta palavra significa “senhor”, referindo-se a um patrão, proprietário ou o próprio Deus (1Re 2.26). Entra na composição de vários nomes próprios, como Adonias (Deus é senhor). Se nos referimos a Deus como Adonai declaramos que ele é nosso proprietário, aquele a quem servimos. Os judeus, para não pronunciar a palavra Yahweh, substituíam-na na leitura bíblica pela palavra Adonai.

11) Yahweh – Eu Sou

Este é o nome mais usado para Deus em toda a Bíblia (5.321 ocorrências), o que tem despertado mais polêmica (ver as Testemunhas de Jeová), e também o de mais difícil interpretação (quanto à pronúncia e significado corretos). É formado pelo tetragrama YHWH, e normalmente traduzido em nossas Bíblias como Senhor (Gn 2.4), SENHOR (Gn 16.7) ou Jeová (Is 12.2). No período pós-exílico a reverência pelo nome de Deus (Êx 20.7) fez com que deixasse de ser pronunciado, substituído pela palavra Adonai. A partir de 1100 dC as vogais de Adonai foram incorporadas às consoantes YHWH, formando a palavra Jeová. Embora Yahweh já fosse conhecido desde o início de Gênesis (Gn 4.26; 22.14), seu significado só foi revelado à época de Moisés (Êx 6.2,3). Ele significa “eu sou”, ou “eu sou o que sou”, porque só o Senhor é Deus – os outros não são (Êx 3.13,14). Jesus reivindicou esse nome de Deus para si (Jo 8.58,59). Yahweh é um nome que aponta para a exclusividade de Deus. Vários nomes próprios na Bíblia foram formados a partir dele: Elias (Yahweh é Deus), Isaías (Yahweh deu salvação), Jônatas (Yahweh tem dado), Josué e Jesus (Yahweh salva).

12) Yah – Eu Sou (abreviação)

Esta é uma forma contraída de Yahweh. Ocorre 50 vezes no Velho Testamento, sendo traduzida como “Senhor”. É transliterado no Salmo 68.4. Esta forma contraída entra na composição de diversos nomes próprios bíblicos, e na formação da palavra Aleluia, que significa “louvado seja Yah” (Sl 150.1,6).

13) Yahweh-Tsabaoth – O Senhor dos Exércitos

Este nome de Deus não ocorre no Pentateuco. Aparece pela primeira vez em 1 Samuel 1.3. Foi usado por Davi ao enfrentar o gigante filisteu (1Sm 17.45) e repetido nos seus cantos de vitória (Sl 24.10). É comumente encontrado nos livros dos profetas (Is 13.4; Jr 50.34; Ml 3.10). Que exércitos são estes aos quais se refere? Segundo alguns, os soldados israelitas; na opinião de outros, as estrelas e planetas. O mais provável é que se refira às hostes angelicais. É o nome guerreiro de Deus. O Senhor dos Exércitos luta contra os inimigos de seus servos, garantindo-lhes vitória e livramento.

14) Yahweh-Shalom – O Senhor é Paz

Este nome foi dado a Deus por Gideão, quando lhe erigiu um altar (Jz 6.22-24). Gideão estava atemorizado porque os midianitas invadiam o território de Israel, e também porque havia visto o Anjo do Senhor, mas Deus lhe disse: Paz seja contigo. Apesar de ser um Deus guerreiro, o Senhor almeja a paz para os seus servos (Sl 29.11). Ele é o Príncipe da Paz (Is 9.6). Ele não é Deus de confusão (1Co 14.33), e sim de paz (Rm 15.33). Logo, espera-se que seus seguidores sejam promotores da paz (Mt 5.9).

15) Yahweh-Rafah – O Senhor que Sara

Chegando a Mara, o povo de Israel encontrou águas amargas. Deus curou-as e disse-lhes que, se andassem nos seus caminhos, não sofreriam as enfermidades enviadas contra os egípcios. E acrescentou: “Eu sou o Senhor que te sara” (Êx 15.26). Este nome chama a atenção para o fato de que Deus é o provedor da saúde, aquele de quem as curas procedem (Tg 1.17). Toda cura é divina (Sl 103.3), ainda que Ele possa usar os médicos (At 28.9) e os remédios (Is 38.21). Uma das tarefas às quais Jesus mais se dedicou foi a cura aos enfermos (Mt 4.23). Ele espera que a igreja também ore pelos doentes (Tg 5.16).

16) Yahweh-Samah – O Senhor Está Ali

Este é o nome que encerra o livro de Ezequiel (Ez 48.35). Fala de uma cidade na qual Deus estaria presente entre o seu povo. Essa cidade é descrita em detalhes em Apocalipse (Ap 21.1-4). Yahweh-Samah é um nome que nos lembra o fato de que Deus está conosco (na pessoa de seu Filho, o Emanuel), e de que nós estaremos com Ele na eternidade celestial.

17) Yahweh-Nissi – O Senhor é Minha Bandeira

Este nome foi dado por Moisés, após a célebre luta em que manteve as mãos erguidas para que Israel fosse vitorioso (Êx 17.15). Yahweh foi a bandeira sob a qual Israel lutava e a garantia de vitória de que dispunha. O nome nos traz a visão do Senhor como o ponto de convergência do seu povo, tal qual as bandeiras e estandartes nas batalhas. Tanto a idéia de vitória quanto a de união estão presentes.

18) Yahweh-Jireh – O Senhor Proverá

Nome dado por Abraão logo após o quase sacrifício de seu filho Isaque (Gn 22.14). Isaque havia perguntado a seu pai sobre o cordeiro para o sacrifício, e ele lhe dissera que o Senhor providenciaria (Gn 22.7,8,13). Séculos mais tarde, João Batista afirmaria que o Cordeiro que Deus providenciou para a nossa salvação é Jesus Cristo (Jo 1.29). O Senhor conhece as nossas necessidades – espirituais, físicas e emocionais – e promete supri-las (Fp 4.19).

19) Yahweh-Tsadiq – O Senhor é Nossa Justiça

Yahweh-Tsadiq (ou Yahweh-Tsidkenu) é um nome que aparece em Jeremias, e que significa “o Senhor é nossa justiça” (Jr 23.6; 33.16). Num mundo de tantas injustiças precisamos conservar a fé de que o Senhor fará com que o justo prevaleça. Devemos também lembrar-nos que a vingança e a retribuição não pertencem a nós, mas a Deus (Rm 12.19).

20) Abba – Pai

No Novo Testamento, encontramos Jesus referindo-se ao Pai utilizando uma palavra muito bela – Abba, que pode ser traduzida como “Pai” ou, mais fielmente, “Papai” (Mc 14.36). Numa época em que as pessoas tinham medo até de pronunciar o nome de Deus, Jesus mostrou-nos como ter uma relação de intimidade com Ele (Rm 8.15; Gl 4.6). É maravilhoso sabermos que temos em Deus um Pai perfeito: em amor, bondade, poder, justiça e sabedoria.

BIBLIOGRAFIA
J. D. Douglas. O Novo Dicionário da Bíblia. Vida Nova.
Harris, Archer e Waltke. Dicionário Internacional de Teologia do A. T. Vida Nova.
R. N. Champlin. O A. T. Interpretado Versículo por Versículo. Candeia.
W. Elwell. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vida Nova.
J. J. V. Allmen. Vocabulário Bíblico. Aste.

(*) Pr Marcelo Rodrigues de Aguiar é pastor Interino da Igreja Batista em Mata da Praia, professor do SETEBES – Seminário Teológico Batista do Estados do Espírito Santo, bacharel em Teologia e Psicologia, Psicólogo clínico e escritor.


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