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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Privação do sono e as suas consequências metabólicas


A cultura do “24 horas por dia, 7 dias por semana” da sociedade ocidental, que representa cada vez mais horas sem dormir, devido à pressão social ou profissional, tem implicações na qualidade do sono e, talvez no risco de obesidade e diabetes, como alguns estudos científicos indicam.

O que significa o sono?

O sono é essencial para a vida e é a base de muitas funções fisiológicas e psicológicas do organismo, tais como a reparação de tecidos, o crescimento, a consolidação da memória e a aprendizagem. Embora nem todos os adultos precisem do mesmo número de horas de sono, os especialistas acreditam que menos de 7 horas de sono por noite, numa base contínua, pode ter consequências negativas para o corpo e para o cérebro.

 O sono e o metabolismo

Ao analisar a relação existente entre o sono e o metabolismo é difícil determinar se certas circunstâncias metabólicas levam ao sono, ou se a qualidade e a duração do sono é que impulsiona o metabolismo. Por exemplo, períodos mais longos de sono profundo são observados em indivíduos fisicamente ativos, tal como em aqueles com a glândula tiroideia hiperativa, ambos os casos também associados a um metabolismo mais rápido. Contrariamente, indivíduos com uma hipoatividade da tiróide e, consequentemente, com um metabolismo mais lento, tendem a desfrutar de menos horas de sono profundo.

Inversamente, a privação do sono está ligada a várias mudanças adversas na atividade metabólica. Por exemplo, os níveis de colesterol sérico (uma hormona envolvida na resposta ao stress) aumenta, a resposta imune é afetada, diminuindo a capacidade do corpo para processar a glicose, e o controlo do apetite é alterado. Estas alterações metabólicas são também típicas em indivíduos cujo padrão do sono é perturbado devido, por exemplo, ao cuidar de um bebê ou a existência de uma doença. O resultado final é que o funcionamento normal do organismo é influenciado pela falta de sono, e com isso certas consequências metabólicas.

 Será que a falta de sono influencia a saúde?

Os estudos epidemológicos e laboratoriais efetuados, sugerem que a falta de sono pode desempenhar um papel no aumento da prevalência de diabetes e obesidade. A relação entre a restrição do sono, ganho de peso e o risco de diabetes pode dever-se a alterações no metabolismo da glicose, ao aumento do apetite e a uma diminuição do gasto energético1.

O sono e o metabolismo de glicose

A redução dos períodos de sono está associada a uma redução da tolerância à glicose e a um aumento da concentração de cortisol no sangue. A tolerância à glicose é um termo que descreve a forma como o organismo controla a disponibilidade de glicose sanguínea, para os tecidos e cérebro. Em períodos de jejum, o elevado nível de glicose e insulina no sangue indica que a distribuição da glicose pelo organismo é realizada de forma inadequada. Há evidências que demonstram que a baixa tolerância à glicose é um fator de risco para a diabetes tipo II. Estudos sugerem que a restrição do sono, a longo prazo (menos de 6,5 horas por noite), pode reduzir a tolerância à glicose em 40%.

 Aumento do apetite

Um estudo realizado, numa grande população, demonstrou uma relação significativa entre a habitual duração do sono curta e o aumento no índice de massa corporal (IMC). A reduzida duração do sono está associada a alterações nas hormonas que controlam a fome; por exemplo, os níveis de leptina (ação na redução do apetite) baixam, enquanto os níveis de grelina (ação estimulante do apetite) aumentam. Estes efeitos observam-se quando a duração do sono é inferior a 8 horas 1,3. Esta situação sugere que a privação de sono é um fator de risco para a obesidade. Num estudo realizado numa população masculina saudável, descobriu-se que uma média de 4 horas de sono está associada a um desejo significativo de alimentos calóricos, com um conteúdo mais elevado de hidratos de carbono (alimentos doces, salgados e ricos em hidratos de carbono complexos). Estes indivíduos também manifestaram ter mais fome2.

É necessário ter em consideração que quantas menos horas se dorme, mais tempo se tem para comer e beber. Existem estudos que mostram que este é um fator que contribui para os aspectos obesogénicos da redução do número de horas de sono.

Menor gasto energético

Do outro lado da equação energética, os indivíduos com menos horas de sono apresentam menor probabilidade de serem fisicamente ativos, o que leva a um menor gasto energético.
 Se o aumento do apetite, e do desejo de comer, se associar a uma redução da atividade física, torna-se claro o importante papel que o sono desempenha na gestão do peso corporal.

O ciclo vicioso do sono e obesidade

A apneia do sono é um distúrbio que afeta aproximadamente 24% dos homens e 9% das mulheres. Esta caracteriza-se por uma interrupção momentânea da respiração durante o sono, resultando numa pior qualidade do sono e num maior cansaço durante o dia. Existe uma forte ligação entre este transtorno e a obesidade. Vários estudos comprovaram que os indivíduos com apneia do sono têm padrões anormais de sono, o que pode acentuar os distúrbios metabólicos associados a uma privação do sono, tais como o aumento da fome. Assim, a apneia do sono causada pela obesidade pode, por sua vez, influenciar o apetite e o gasto energético, favorecendo a obesidade. Contudo, é necessário fazer mais investigações para conhecer melhor estas relações.

 Conclusão

 A falta de uma boa qualidade do sono parece ter um impacto nos condutores fisiológicos do balanço energético, nomeadamente no apetite, na fome e no gasto energético. Além disso, a privação do sono apresenta efeitos negativos na capacidade do corpo distribuir a glicose sanguínea e pode aumentar o risco de diabetes tipo II. No entanto, ainda não é claro como se pode utilizar as alterações do sono para criar padrões favoráveis, que permitam gerir o peso corporal e reduzir o risco de doenças típicas de quem já apresenta um excesso de peso.

Referências

Knutson K.L. et al. (2007). The metabolic consequences of sleep deprivation. Sleep Medicine Reviews 11(3):159-62
Spiegel K. et al. (2005). Sleep loss: a novel risk factor for insulin resistance and Type 2 diabetes. Journal of Applied Physiology 99:2008-19
Van Cauter E. et al. (2007). Impact of sleep and sleep loss on neuroendocrine and metabolic function. Hormone Research 67:2-9


Fonte: http://www.eufic.org/article/pt - Pesquisa em 23/12/2014

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